segunda-feira, 27 de abril de 2015

O REAL JOGO DA ESCRITA




Qual o melhor conselho que já ouvi de um escritor?

Kameron Hurley disse, em resumo:

Conheça o jogo. Depois de anos e anos aprimorando sua escrita, você publica seu primeiro livro e pensa que venceu, que faz parte de algo. Então você percebe que o jogo pode ser feio. Coisas terríveis podem acontecer. Não basta ser um bom escritor. A partir de agora será preciso ralar para colocar seu nome em evidência, tendo uma cabeça meio de empresário e tentando não ser um idiota perante seus colegas de escrita. Além de sofrer várias críticas, algumas ferozes. Pense se realmente é isso o que você quer.

sábado, 25 de abril de 2015

KAMALA KHAN, A HEROÍNA MUÇULMANA DA MARVEL



A revista da nova Ms. Marvel representa o que há de melhor nessa nova leva de quadrinhos antenados com as mudanças do mundo, num cenário mais tolerante e mais diverso. O antídoto ideal para quem ainda insiste com as bandeiras do preconceito.

Kamala Khan é uma adolescente de Nova Jersey, paquistanesa e muçulmana. O que poderia ser algo politicamente correto se torna uma divertida e nada convencional reflexão sobre identidade, diferença de culturas, família e o papel de cada um na sociedade.

Kamala é nerd, atrapalhada e cheia de opiniões. Uma fã que se torna heroína, e sofre as consequências de sua escolha.

Eu li até agora os dois primeiros volumes, do nº 1 a 11. G. Willow Wilson, uma americana convertida ao islamismo, escreve o roteiro de as todas edições. Os parceiros na ilustração variam em alguns números. Todos são excelentes, cada um mostrando sua interpretação da figura de Kamala e do seu universo. A versão de que é mais gosto, a mais marcante, é a do ilustrador Adrian Alphona com cores de Ian Herring. Aliás, o visual da personagem foi criado por Wilson e Alphona.

O traço de Alphona é bem divertido, misturando rapidez com um impressionante nível de detalhamento quando necessário. Ele fez de Kamala e de outros personagens gente com características bem típicas, mas sem estereótipos. E as cores, ao mesmo tempo, vibrantes e lavadas de Herring fazem da textura desses quadrinhos algo único.

O primeiro volume (nº 1 a 5) é de cair o queixo, justamente, porque Wilson, Alphona e Herring dão o seu melhor. A qualidade das estórias cai um pouco no volume 2, mesmo com a participação especial de Wolverine. Mas ainda assim, a leitura vale muito a pena.

Estou esperando o volume 3 sair. E esse será o último. Com a reformulação do universo Marvel, tudo praticamente vai mudar. A boa notícia é que Kamala foi escalada para integrar o novo time de Vingadores só com personagens femininos, nas próximas Guerras Secretas, com roteiros da mesma G. Willow Wilson.

Espero que Kamala tenha vida longa. Wilson a tornou uma das gratas surpresas nos quadrinhos. E a presença da heroína muçulmana ultrapassou os limites da nona arte, tornando-se exemplo para meninas de todas as cores. Kamala não leva desaforo para casa.


    Ms. Marvel, vol.1, Wilson, Alphona e Herring, 120 págs., Marvel

    Nota:



    Ms. Marvel, vol.2, Wilson, Alphona, Wyatt e Herring, 136 págs., Marvel

    Nota:



quinta-feira, 23 de abril de 2015

OS FILMES DA DC SÃO MAIS RELEVANTES OU MAIS PRETENSIOSOS?



A Warner/DC é a Microsoft desse boom nerd no cinema. Ficou vendo o trem passar, e agora corre atrás do prejuízo. Avalia quais as opções.

Acho que o estúdio vai investir mesmo nesse tom mais sombrio e reflexivo em todos os filmes que vêm por aí, como uma marca, como o diferencial em relação aos filmes da Disney/Marvel.

Nolan inaugurou isso com o seu O Cavaleiro das Trevas, que discutia: o que, afinal, é fazer justiça? Fazer justiça é manter a ordem ou mudá-la? Em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, a discussão continua, mas de uma maneira bem forçada, prejudicando a narrativa.

Em O Homem de Aço, o tema foi: o que molda o caráter de uma pessoa, o que a torna boa ou má? Ou melhor dizendo, uma pessoa extremamente poderosa pode ser alguém ainda melhor ou pior?

Parece que nesse Batman v Superman essa reflexão virá contudo. No filme da Mulher Maravilha a discussão será em torno do papel (ou papéis) da mulher na sociedade. Num filme do Aquaman, o que será discutido, a crise ambiental do planeta?

A Warner/DC toma uma posição arriscada por dar tanto peso a filmes que deveriam ser apenas diversão. Mas eu tiro o chapéu por eles tentarem uma abordagem diferente, próxima ao melhor do que já foi produzido com seus personagens nos quadrinhos. Mas o estúdio sabe que essa tomada de posição pode ter um preço alto.

Os filmes da Marvel são mais leves, abrangem um público maior, da criança ao idoso. Ou seja, as chances de maiores bilheterias são óbvias. A Warner/DC está preparada para fazer filmes num tom mais sombrio e não ganhar tanto dinheiro assim? Ver os grandes filmes do concorrente bater U$1 bilhão de bilheteria quase com as mãos nas costas, enquanto eles lutam para atingir tal quantia e ultrapassá-la?

O Marvel Studios está sendo fiel, na medida do possível, ao espírito dos quadrinhos que moldou a Casa das Ideias. A DC, através da Warner, também está tentando fazer o mesmo em relação aos seus quadrinhos. Mas o que deixa os fãs nervosos e com um pé atrás é ver que a Marvel sabe o que está fazendo e a DC nem tanto.

domingo, 19 de abril de 2015

CADÊ O PROTAGONISTA NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA?


Clique na imagem para ler a matéria

A falta de um maior protagonismo de personagens negros na literatura brasileira foi algo que sempre me incomodou. Há exemplos desse protagonismo desde o século 19, quando estereótipos eram reforçados, como nos romances naturalistas. Nas primeiras décadas do século 20, a obra do fundamental Lima Barreto criticou esses estereótipos com toda a força.

No século 20, ao invés de a coisa evoluir, continuou praticamente no mesmo curso. Para cada João Antônio, tínhamos 10 Jorge Amado. Não estou faltando com o respeito com meu conterrâneo. Jorge Amado foi importantíssimo na minha formação como leitor e escritor. Ele me mostrou que era possível fazer boa literatura de forma simples, com energia, com alma. O grande problema de sua obra é que reduziu a Bahia e as peculiaridades de nossa cultura a um mundo pitoresco demais. Sem uma autocrítica desse mundo que realmente tocasse na ferida. Mesmo nos romances políticos, a revolta dos personagens negros sempre ia até certo limite. Nos livros de Lima Barreto, os personagens negros e mulatos passam desse limite e pagam o preço, e toda a brutalidade e hipocrisia sociais são expostas.

O que vimos na literatura brasileira no século 20 foi autores brancos mostrando como protagonistas negros se comportam, com maior ou menor competência. Enquanto isso, autores negros americanos, como James Baldwin, Richard Wright, Alice Walker e Toni Morrison, colocavam fogo no mundo literário dos EUA. Então eu pergunto: qual é o grande romance da literatura brasileira escrito por um autor negro no século 20? Sem pensar muito: Triste Fim de Policárpio Quaresma, de Lima Barreto. E só. Se eu tirasse o termo "por um autor negro", rapidamente lembraríamos de vários clássicos: Grande Sertão, Veredas; Vidas Secas; O Tempo e o Vento e por aí vai. Todos de autores considerados brancos.

Minha ponta de esperança é que autores negros, no século 21, estão tentando tirar esse nosso atraso, no dente. Autores como Ana Maria Gonçalves e Jim Anotsu.

Sinto falta em nossa literatura de romances policiais, fantasia, ficção-científica, chick lit e obras experimentais com protagonistas negros. Mas não apenas numa mera mudança de posição. E sim a representatividade com conteúdo. Colocar um personagem negro apenas como o mais bonito, o mais inteligente e o mais capaz é outra forma de racismo. Um personagem negro pode ser tudo isso, mas também deve ter os seus demônios interiores, como qualquer pessoa.

Autores negros, escrevam suas obras! Não estou dizendo aqui que autores brancos não podem escrever estórias com personagens negros. Estou dizendo que o autor negro, mais do que qualquer outro, sabe da urgência da representatividade em nossa literatura.

OS ELADIANOS VÊM AÍ!



Depois de uma longa conversa inicial, eu e o autor Rochett Tavares decidimos criar um universo de space opera a quatro mãos, a partir da raça alienígena que aparecerá no meu conto da Antologia Estranha BAHIA. Para o segundo semestre, vamos publicar um conto de maior fôlego já nesse universo. Será meu primeiro projeto em colaboração. Estou bastante empolgado.

sábado, 18 de abril de 2015

MEU PRIMEIRO ROMANCE SAI, NO MÁXIMO, EM AGOSTO



Eis meu primeiro romance. 22 capítulos, cerca de 45 mil palavras. Pronto para última revisão antes de passar o texto para os leitores beta. Em agosto, no máximo, será disponibilizado gratuitamente em várias plataformas.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

CAPA DEFINITIVA DO MEU PRIMEIRO ROMANCE

Será um romance juvenil, mas feito para todas as idades. Inspirado em mestres que souberam escrever para jovens, porque não os subestimaram nem deram lições de moral. Os leitores conhecerão Lottar, um menino negro de nove anos, filho de uma feiticeira e um devorador de almas. Ele e sua mãe, Kaline, vivem tempos difíceis, tempos de guerra, num mundo onde magia e ciência coexistem.

  

domingo, 5 de abril de 2015

ESTRANHA BAHIA - CONTOS SELECIONADOS



Aqui estão os contos selecionados para nossa antologia. Parabéns aos autores:

-“ Canudos XXI”, de Isabelle Neves (Na Canudos de 1997, cem anos depois do fim da famosa Guerra, um menino tem de enfrentar a Morte para proteger as pessoas de sua comunidade.)

-  “EM busca da disgraça da pedra azul”, de Cristiane Schwinden (Conto de fantasia heroica, uma divertida versão da jornada do Escolhido.)

- “Enterrados a respirar”, de Alexandre Cthulhu (Com uma estrutura bastante criativa, o conto mostra a chegada de um português à Bahia para executar um assustador plano de vingança.)

- “Joel das Almas e os do lado de baixo”, de  Evelyn Postali (Durante a folia de carnaval, um exorcista recorda fatos extraordinários do seu passado e se depara com outros no presente.)

- “O Profeta do 666”, de TARCÍSIO JOSÉ DA SILVA (Um homem tem de lidar com os mistérios e horrores de um quarto numa velha pensão, no centro de Salvador.)

- “Raças”, de Ricardo Santos (organizador) (Numa Salvador do futuro, onde humanos e uma raça alienígena convivem abertamente, um policial humano investiga o assassinato de uma prostituta alien.)

- “A Lança de KaIangô”, de Rochett Tavares (organizador) (Na Bahia do século 19, um escravo parte em busca de uma lança mítica.)

Agradecemos aos demais participantes. Os cincos contos escolhidos atenderam a todos os itens do regulamento e se destacaram pela qualidade dos textos. As escolhas são subjetivas, de total responsabilidade dos organizadores e irrevogáveis. Nosso maior objetivo foi atingido: os contos selecionados são de maior fôlego, na verdade, algumas estórias são noveletas, coisa rara nesse tipo de projeto. A edição final da antologia terá em torno de 50 mil palavras. Isso faz com que a versão em papel tenha reais chances de acontecer. Nós organizadores, juntamente com a EX Editora, vamos avaliar a possibilidade de sair uma edição física bacana, sem cobrar nada dos autores. Seria muito legal conseguir lançar a versão em papel e o e-book no dia 15 de outubro. Veremos. Enquanto isso, daremos continuidade ao nosso cronograma. A próxima etapa será a preparação dos textos. Entre os dias 15/04 a 15/07, teremos um contato direto com os autores para discutir melhorias nos textos, via e-mail e inbox do Facebook. Nos próximos meses, vão rolar algumas ferramentas de divulgação, principalmente, para o público conhecer melhor os autores selecionados. A antologia já tem uma página no Face, curtam e divulguem.