domingo, 28 de dezembro de 2014

A NOVA MANCADA DA AMAZON



Nossa realidade como autores é diferente da dos gringos. Nos States, as pessoas estão largando seus empregos pra escrever e-books. O sonho de muitos de ser um full time writer é antigo (não só nos States, claro), mas a internet e principalmente a Amazon proporcionaram um boom para realizarem esse sonho. O mercado editorial americano é auto-suficiente e maduro como negócio (nem vou entrar no mérito da qualidade das publicações). Por isso, toda essa chiadeira, que já venho escutando há algum tempo. Mas quando a Amazon muda as regras do jogo dificilmente ela sai perdendo. Trata-se portanto de uma questão de respeito. Quando houve a disputa com a Hachette, a Amazon desrespeitou os leitores. Ela retirou botões de compra em seu site e atrasava as entregas. Agora ela está desrespeitando os autores, como se autores independentes valessem menos. A adesão ao unlimited se tornou um dilema. O autor sai perdendo se ficar de fora ou se ficar dentro. E talvez perca mais se ficar de fora, sob o risco de sofrer retaliações mascaradas ou não da Amazon. Como eu disse, nossa realidade é diferente. Minha relação com a leitura em geral é uma mistura de coisas: vício, fome por conhecimento, apreço estético, por ser a diversão com melhor custo-benefício, pelo meu jeito recluso de ser etc. Em específico, na literatura, é porque gosto de contar de estórias, assim como outros gostam de praticar esportes, de cozinhar etc. Não glamorizo o ato da escrita. Você aprende a escrever, com disciplina, estudo e dedicação. Algum dia eu quero viver exclusivamente do que escrevo? A resposta é NÃO. Isso me tiraria a liberdade de que fazer o que eu quisesse, quando eu quisesse. Agora eu quero, sim, que os textos que eu disponibilizar, ganhando algum dinheiro ou não, sejam muito bem escritos e editados. E felizmente não estou sozinho nisso. Porque vejo outros autores tendo o mesmo cuidado. É por isso a minha revolta com práticas como essa da Amazon. O unlimited, do jeito que está, pode prejudicar bons autores independentes. Para mais informações, clique na imagem para ler a matéria do New York Times.

sábado, 27 de dezembro de 2014

COMO ESCREVER CENAS DE LUTA

Achei essas dicas interessantes. Por isso, resolvi traduzi-las. Você pode não concordar com tudo, mas muitas delas são bem úteis. No site, há outros materiais como vídeo e exemplos práticos.http://www.wikihow.com/Write-Fight-Scenes
1)Tenha oponentes à altura. Não será bacana de ler se o herói for um lutador melhor que seu oponente. Um oponente de respeito proporciona uma boa luta. Um capanga cabeça oca torna a luta logo chata. Faça o oponente surpreender.
• Se o inimigo avançar em ataques sucessivos, mostre os efeitos disso nos participantes. Talvez a luta interminável os canse, ou eles percebam que estão ficando sem “munição”.
2) Faça parecer de verdade. Lutadores reais não param para fazer discursos um para o outro. Na vida real, enquanto a adrenalina está explodindo, as pessoas não tem vigor para elaborar falas maliciosas ou espirituosas. Xingar é comum, por impulso e com frequência coisas cabeludas. Quando alguém leva um chute no maxilar, ou der uma cabeçada, dificilmente isso é ignorado, como se nada tivesse acontecido. Quando o herói leva porrada, faça com que os leitores “sintam” a porrada.
3) Considere com cuidado o efeito que suas palavras têm no leitor quando se trata de entendimento da cena.
• Frases breves com pouca descrição fora da luta gera um ritmo mais acelerado, mais frenético.
• Frases mais longas com mais detalhes têm seu valor, mas desaceleram o ritmo e deixa tudo mais devagar.
• Use os dois tipos de frases para ajudar a controlar o ritmo da cena da luta exatamente como você quer conduzi-la.
• Quanto mais detalhes você oferece, menos o leitor usará a imaginação dele. Quanto menos você oferecer, mais o leitor a usará.
4) Cada autor deve procurar a cena de luta que mais funciona para seu texto. Aqui estão algumas ideias de estilos de luta a considerar:
• Realista.
• Exageros da fantasia.
• Mano a mano.
• Um contra muitos.
• Nível épico (muitos contra muitos)
5) Mostre os efeitos da luta depois que ela acaba. Depois da luta, o herói está machucado? Ele está sagrando? Ele quebrou um braço? Se sobrou mais alguém, como estão os outros lutadores? Se seu lutador sai andando como se nada tivesse acontecido, então ele é um robô, ou você está esquecendo alguma coisa.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

ADIVINHE QUEM VEM PARA MATAR



The Guest, de Adam Wingard, é um dos melhores filmes de 2014. O diretor admite a forte influência dos filmes de John Carpenter para a criação dessa mistura de thriller, comédia bizarra e terror. E se o próprio mestre não anda em forma ultimamente, Wingard e o roteirista Simon Barrett se mostram discípulos aplicados. Toda a atmosfera do filme é baseada nos anos 80. Da direção de arte às escolhas do roteiro. A trilha sonora é viciante. O personagem de Dan Stevens é um "surtado contido", mal fala, mal se mexe, mas quando entra em ação é uma máquina de arrebentar ossos e cartilagens. E a coisa é mostrada de uma maneira gore! O mais interessante é que você começa a gostar dele, mas depois se sente culpado por essa simpatia. Esse desconforto é o grande trunfo do filme.

The Guest, de Adam Wingard, 2014, HanWay Films

AVALIAÇÃO: MUITO BOM

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A ASSASSINA E O DRACOGRIFO



Fantasia de inspiração medieval com cavaleiros, magos e dragões existe aos montes, seja de autores de língua inglesa, seja de autores de países como Itália, Espanha e Brasil. Seguindo o raciocínio da lei de Sturgeon, que afirma que 90% de qualquer coisa é lixo, podemos dizer que encontrar uma fantasia que realmente agrade não é fácil. Então, me deparo com essa noveleta. Num mundo fantástico, uma assassina, portadora de uma espada mágica, adquire por acidente um ovo especial. Dele surge um dracogrifo, uma mistura de dragão com grifo, a criatura mitológica meio ave, meio fera. A assassina decide empreender uma jornada para devolver a criatura ao seu local de origem. É um texto escrito com muito vigor, num ritmo acelerado, mas sem perder a profundidade dos personagens. Vannora, a assassina, tem uma personalidade forte, o que é ao mesmo tempo uma qualidade e um defeito. O que é compreensível. Afinal, ao se tornar uma mulher de ação, ela escolheu subverter a ordem estabelecida de um mundo dominado por homens, de um mundo violento. A única ressalva são errinhos na revisão do texto. O maior mérito da melhor fantasia, assim como da melhor ficção-científica, é contar uma boa estória e fazer o leitor sair de sua zona de conforto, dar uma chacoalhada na ordem das coisas. Ninho de Dracogrifos dá sua contribuição.

Ninho de dracogrifos, de Alec Silva, 35 págs., Draco


AVALIAÇÃO: MUITO BOM

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

RESULTADO DO SORTEIO



Saiu o resultado do sorteio pro pessoal que curtiu a fan page do blog. Ganhadores, agradeçam à mãozinha abençoada da minha auditora e esposa Priscila. Parabéns PAULO ELACHE e CRISTIANE SCHWINDEN!!! Vocês vão receber não um mas dois livros cada. O volume da antologia The King de contos de terror em homenagem a Stephen King, e a antologia de poemas e contos do 1º concurso literário do servidor público da Bahia. Da primeira, eu participei com o conto A decisão, e, da segunda, com o conto Paisagem manchada de sol e chuva. Entrarei em contato com os autores e os livros serão enviados gratuitamente pelo correio nos próximos dias.  

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PELO DIREITO DE FALAR MERDA



Eu já vi várias comédias da tchurma de Seth Rogen. Eles conseguiram produzir uma genial, Superbad, e o resto são de razoáveis a ruins. Tudo bem, muita barbaridade acontece na Coreia do Norte. Coisas nada engraçadas. E realmente esse tipo de comédia com americanos invadindo à praia alheia muitas vezes descamba para o racismo. Mas o que está em questão é tirar o direito do público em decidir se queriam ou não ver o filme, se o boca a boca ia funcionar, se os críticos iam gostar ou odiar, se seria um fracasso ou sucesso de bilheteria. A covardia da Sony tirou o direito das pessoas de aplaudirem os caras ou de chamá-los de completos idiotas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

ESTRANHA BAHIA, ANTOLOGIA DE TERROR, FANTASIA E FC (ATUALIZADO)



Galera, finalmente saiu a capa de nossa antologia ESTRANHA BAHIA. Ficou bonitona, não ficou? Bem no clima pulp que pretendíamos. Mérito dos talentos de Nanuka Andrade na ilustração, e Rochett Tavares na finalização da capa. As submissões começam em janeiro de 2015. Leiam o regulamento abaixo.


ESTRANHA BAHIA - REGULAMENTO

Antologia de contos de terror, fantasia e ficção-científica

O projeto busca reunir autores, dentro e fora do estado, a fim de publicar antologia de contos com ambientação na Bahia, nos gêneros terror, fantasia e ficção-científica. Fica a critério dos autores adicionar aos contos outros gêneros como suspense, drama, policial, comédia, aventura e romance. O objetivo da antologia é mostrar, por meio da ficção, uma Bahia além dos clichês e estereótipos.


Para tanto, cada autor deve:
• Enviar UM conto para o email estranhabahia@gmail.com, em formato Word, espaço simples, fonte times, tamanho 12, dentro do prazo estabelecido (ver cronograma abaixo);
• O texto deve ser ficcional, não cabendo o envio de poesia e não-ficção;
• O conto deve ter limite mínimo de 30 mil e máximo de 50 mil caracteres com espaço;
• O conto não deve fazer apologia a ideologias controversas, como discriminação racial, religiosa, homofobia, sexismo, xenofobia, nem de cunho violento ou fanático;
• O conto deve ser ambientado na Bahia, em qualquer época ou universo.


A proposta é editar uma antologia em e-book gratuito, sem qualquer custo para os autores, sob total responsabilidade dos organizadores. Serão selecionados 15 contos, de 15 autores diferentes. Os três organizadores também participarão com um conto cada. Portanto, a antologia será composta por 18 contos. Os autores manterão os direitos de suas obras. Durante a seleção dos textos, haverá duas preocupações: 1ª) dar o devido equilíbrio na representação dos gêneros terror, fantasia e ficção-científica; e 2ª) buscar maior diversidade de temas e discursos narrativos


CRONOGRAMA:
1) Prazo de envio dos contos - 15/01/2015 a 15/03/2015
2) Divulgação dos autores selecionados - 05/04/2015
3) Período de edição dos contos (discussão com os autores, visando a melhoria dos textos) - 15/04/2015 a 15/07/2015
4) Período de finalização da antologia (revisão e diagramação) - 30/07/2015 a 30/09/2015
5) Lançamento - 15/10/2015

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O GIGANTE DE FERRO, UMA ANIMAÇÃO PRECURSORA



Brad Bird é a mente por trás de animações de grande sucesso de crítica e de público, como Os Incríveis e Ratatouille. Cada lançamento dele gera grande expectativa, porque ele conseguiu criar uma marca registrada. Podemos considerá-lo um autor, um cineasta com uma visão de mundo bem definida, que ele consegue manter coesa, mesmo com as pressões de estúdio. Ele parece nos dizer: a vida é cheia de conflitos, então escolha seu lado e lute pelo o que você acha realmente importante. Em seu primeiro filme live-action, Missão Impossível: Protocolo Fantasma, ele conseguiu se sair bem, entregando uma aventura empolgante. Seu próximo filme também será um live-action, Tomorrowland, baseado numa atração da Disney, com George Clooney. Um projeto ambientado em um universo de fantasia, que lhe é mais familiar. Porém muitos fãs do diretor torcem para que ele volte logo para o mundo da animação, no qual, com apenas três filmes, tornou-se uma referência. E tudo começou com O Gigante de Ferro, de 1999.

Conhecemos Hogarth, um menino de nove anos, que vive numa área rural dos EUA, em 1957. São tempos tensos: Guerra Fria, o lançamento do Sputnik, a paranoia comunista, o medo de um ataque nuclear. Hogarth é inteligente e ativo, vidrado em filmes B de ficção-científica e quadrinhos como Superman. Certa noite, ele se depara com uma criatura que veio do espaço: um robô de ferro de 30 metros de altura. O medo dá lugar ao êxtase: agora ele tem seu próprio robô gigante de estimação. Mas o robô se tornará algo muito mais precioso.

É um filme de transição, entre o antigo e o novo jeito de fazer animações. Mistura animação tradicional e computação gráfica. Ainda tem a cara dos trabalhos artesanais feitos nas décadas anteriores, mas com uma sofisticação de fotografia e montagem que se tornou mais comum nos últimos anos.

A representação dos EUA da década de 1950 é feita de maneira cartunesca, assim como os elementos de ficção-científica são característicos da época, bem retrô.

É uma animação que impressiona também pelo seu roteiro. É uma precursora das melhores animações atuais, que são feitas para toda a família, conseguindo atingir vários níveis de compreensão, sem ofender a inteligência de crianças, jovens e adultos.  Diverte sem ser idiota. Emociona sem ser piegas.

O Gigante de Ferro (The Iron Giant), 1999, dir.Brad Bird, Warner Bros.

AVALIAÇÃO: MUITO BOM 

domingo, 14 de dezembro de 2014

SORTEIO DE LIVROS



Este ano resolvi dar uma de Papai Noel. Vou sortear DOIS EXEMPLARES da Antologia The King, de contos de terror em homenagem ao mestre Stephen King. Além do meu conto, vocês poderão ler estórias de gente fera como Daniel I. Dutra, Jana Lauxen, Afobório, Jeremias Soares e muito mais. Para participar do sorteio é muito fácil. É só dar uma curtida no contador da fan page aqui no blog. No dia 22 de dezembro, serão contemplados o primeiro nome masculino e o primeiro nome feminino. Os livros serão enviados gratuitamente para a casa dos ganhadores. E, claro, eles têm que morar no Brasil. Boa sorte!

domingo, 7 de dezembro de 2014

RESENHA DE THE LIVES OF TAO, DE WESLEY CHU


  
Sabe aquela voz interior que você fica ouvindo dentro de sua cabeça? Ora você pensa que é sua consciência tentando ajudá-lo a levantar sua autoestima, para finalmente criar coragem e convidar aquela colega de trabalho para sair, ou para começar a fazer exercícios físicos, ou para dar um basta no emprego de merda. Ou tudo isso junto. Ou senão você pensa que a voz interior é o sinal mais claro de um quadro de loucura crescente.

Mas e se a voz interior fosse a de um alienígena que tomou seu corpo como a única maneira de sobreviver em nosso planeta?

Quando Roen Tan começa a ouvir essa voz dizendo coisas para ele, dando-lhe ordens, ele realmente pensa que está maluco. Roen é um jovem gordo e asiático, que adora pizza e videogame e trabalha como programador numa empresa que ele odeia. Seu cotidiano é bastante medíocre. E ele não tem muitos objetivos na vida.

Então ele conhece Tao. Na verdade, Tao entra em seu corpo numa situação de emergência. Mas ele não é o único alienígena entre nós. A nave com seu povo, os Quasing, caiu e foi destruída na Terra milhões de anos atrás, antes mesmo do surgimento do homem. Como eles não podiam sobreviver em nossa atmosfera, foram obrigados a improvisar. Resolveram impulsionar o desenvolvimento da vida e da raça humana ao longo dos séculos para que um dia houvesse tecnologia suficiente para construir outra nave e voltar para casa. 

Wesley Chu
Para certos Quasing, a guerra é a forma mais rápida de dar saltos tecnológicos. Outros discordam, entendendo que os humanos não são meros receptáculos, vendo-os mais como preciosos colaboradores. A divergência causa um racha. Há milhares de anos, os Prophus lutam para voltar para casa sem destruir a raça humana e o planeta, e os Genjix não dão a mínima, fazem de tudo para alcançar seu objetivo maior.

É aí que, na Chicago nos dias atuais, o pobre do Roen se mete nessa guerra civil secreta, em que alienígenas no interior dos corpos de políticos, empresários e forças policiais decidem o nosso futuro.

Quando um Quasing está no corpo de alguém, ele não tem o poder de controlar sua coordenação motora, suas ações; exceto durante o sono. O que ele realmente faz é influenciar a pessoa a tomar determinadas atitudes, a pensar melhor, com mais clareza, ou simplesmente gritar para que a pessoa acorde pra vida. 

Tao é um Prophus, um espião, mestre em armas, artes marciais e tecnologia. Ele tinha conseguido transformar seu hospedeiro anterior num excelente agente de campo. Mas este acabou morto numa emboscada, restando a Tao entrar no copo de Roen, que saía de uma boate depois de uma noite malsucedida.

Tao precisa voltar à ativa o mais rápido possível. Fazer com que Roen seja morto não é uma opção. Então ele precisa convencer o cara a largar a comida gordurosa, a vida sedentária de jogador de videogame e simplesmente se tornar um James Bond. O processo de transformação de Roen é divertido e bem orquestrado. Acontece no ritmo certo, já que há avanços e recuos, inseguranças e superações. Uma das qualidades do romance é a interação, nem sempre amistosa, entre Roen e Tao.

A primeira metade do livro é mais empolgante. Os personagens são apresentados com bastante vigor, e há mais criatividade na construção das cenas e no desenvolvimento das motivações dos personagens. Na segunda metade, a trama fica um pouco chata, sem tanto brilho. A coisa volta a melhor nos capítulos finais.

Outro aspecto do romance que me incomodou foi o fato do autor praticamente reduzir momentos cruciais da História, principalmente as guerras, como consequência exclusiva da disputa entre Prophus e Genjix. De certa maneira, ele tira dos seres humanos tanto a culpa por muita atrocidade e violência, como o mérito por diversos avanços científicos.

A ideia do romance parece boba. Premissa de seriado de TV. Mas o bacana do livro é não se levar tão a sério. É uma mistura de trama de espionagem, ação e humor. É uma boa pedida para desligar a mente.

O volume é o primeiro de uma trilogia.

The Lives of Tao, Wesley Chu, 460 págs., 2013, Angry Robots


AVALIAÇÃO: BOM    

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

FC MADE IN BRAZIL



Por que nossos autores de FC não são publicados lá fora? Quer dizer, eu sei que existem alguns nomes mais estabelecidos, como Roberto de Sousa Causo e Carlos Orsi, que são veteranos em colaborações estrangeiras, com traduções de seus contos que vão do inglês a línguas eslavas. Também existem autores como Jacques Barcia e Fábio Fernandes que têm uma militância muito forte, no sentido de colocar a nossa FC num cenário internacional, principalmente no mundo de língua inglesa. Mas o que falta são edições em inglês, francês, ou russo, por exemplo, de romances de maior fôlego. Esses romances já existem? Sim. Como seria interessante ver uma edição americana ou francesa do novo livro de Gerson Lodi-Ribeiro, Aventuras do Vampiro de Palmares. Uma história alternativa madura com referências tão ligadas à nossa cultura, sem ser politicamente correto ou de visão estereotipada.

Mas o que é necessário para que isso aconteça? Alguns dizem que para um livro ganhar traduções pelo mundo, primeiro ele precisa fazer o dever de casa, ou seja, ser um best-seller em seu próprio país. O que chamaria a atenção de editoras estrangeiras para o potencial de vendas da obra. Outra possibilidade seria incluir livros como o de Lodi-Ribeiro em programas de incentivo à tradução, patrocinados por governos nacionais. Qual seria o melhor? Na verdade, no caso brasileiro, a pergunta correta é: qual seria o possível? A segunda alternativa é a mais provável. Infelizmente, a importância cultural do Brasil para o resto do mundo é pequena. Portanto, seus bens culturais geram baixa expectativa por parte de consumidores estrangeiros. As referências para criar esse interesse são muito poucas e vivem, ou viviam, momentos cíclicos. Parece que agora há uma sensação de recomeço que veio para ficar. Mesmo assim, ainda não é suficiente para aumentar essa expectativa gringa.

Na FC, autores russos, franceses e de alguns outros países de língua não inglesa sempre tiveram esse reconhecimento por parte de editoras americanas e inglesas, fosse por pequenas ou grandes casas. Então eu pergunto: onde estavam nossos autores nas décadas passadas nesse cenário internacional? Minha pergunta é uma provocação, mas também uma forma de aprendizagem.

Atualmente, autores nacionais da chamada "alta literatura" têm seus livros quase que simultaneamente traduzidos por meio de programas de tradução ou acordos entre editoras daqui e de fora. Alguns consideram essa manobra meio artificial, justamente pela falta de legitimação do mercado. Afinal, só se traduz aquilo que é sucesso de público ou de crítica. Para mim, os dois caminhos são válidos. Agora claro que é muito mais gostoso ser traduzido devida às vendas e à repercussão, pelo fato de o livro ter caminhado com suas própria pernas. Mas, se formos esperar por isso, muitos autores nacionais, e alguns deles com total merecimento de causa, deixariam de ter a possibilidade de conquistar um público leitor maior e talvez até mais apaixonado por uma FC menos convencional, como os franceses. Então lanço outra pergunta: por que autores de FC nacionais não beneficiados por programas de tradução? Caso já sejam, me corrijam. Seria tão bom se eu estivesse errado.

O novo interesse do mercado editorial americano são autores de FC chineses. Pelo menos em um caso, o hype surgiu porque o autor foi best-seller e multipremiado em seu país. Então uniu-se o útil ao agradável. Houve o selo de aprovação do mercado e o autor vem de um país cultural e economicamente importante no cenário mundial. A cereja do bolo é que o romance do sujeito tem uma boa premissa de FC, parece trazer alguma coisa de novo. Portanto, uma editora como a Tor teve todas as justificativas para lançar o romance de um estrangeiro num mercado pouco aberto a traduções. Claro que essa edição em inglês terá um alcance maior. Será uma forma de leitores em vários países conhecer esse autor. A Tor avaliou que valia a pena o investimento. Em relação à nossa FC, também acredito que alguns autores valem o investimento. Então lanço minha última pergunta: o que pode ser feito para que isso aconteça?