quarta-feira, 25 de junho de 2014

RESENHA DE QUAD Nº1, HQ DE FICÇÃO-CIENTÍFICA BRASILEIRA


QUAD é uma antologia em quadrinhos, dividida em quatro histórias, passadas no mesmo universo de ficção-científica. Cada história foi escrita e ilustrada por um artista brasileiro. Quem comanda o roteiro e arte do nº1 é o experiente ilustrador Eduardo Schaal.

Conhecemos Terah, uma espécie de mecânica faz-tudo que vive de bicos consertando máquinas de segunda mão. Quando ela precisa de peças para concluir seus serviços, ela vasculha as terras devastadas ao redor da cidade, cheia de mutantes ameaçadores. A HQ The Walking Dead vem logo à cabeça, mas Schaal soube dar "personalidade" própria aos seus "zumbis". Outra referência à obra de Robert Kirkman é o fato de Terah não usar armas para se defender, e sim ferramentas à mão.

Eduardo Schaal
A belíssima capa mostra como Terah é durona, no estilo das heroínas dos filmes de James Cameron. Ela tem personalidade forte e não há exploração gratuita de sua sexualidade.

As ilustrações e tons de cinzas são muito profissionais e impactantes, principalmente, nos quadros maiores ou de página inteira. O ponto negativo é que, para um projeto que não pretende ser uma publicação periódica, certos enquadramentos e o próprio roteiro deveriam ter fugido da abordagem mais tradicional do primeiro terço da história.

As páginas finais são excelentes, deixando um gancho promissor para o próximo número.

QUAD nº1, de Eduardo Schaal, edição digital, 34 págs.

AVALIAÇÃO: BOM

sábado, 14 de junho de 2014

A ARTE DE JULIE DILLON

Julie Dillon é uma artista e ilustradora americana, especializada em imagens de ficção-científica e fantasia. Ela já fez capas de livros, revistas e discos, além de trabalhar com games. Suas ilustrações digitais misturam elementos clássicos da FC e da fantasia numa roupagem contemporânea, sensual e subversiva. Ao mesmo tempo, é uma homenagem à tradição e um passo adiante.




















 

sábado, 7 de junho de 2014

AUDITION: O LIVRO E O FILME


"Quem vê cara, não vê coração." Essa máxima é puro clichê. Mas acontece que, muitas vezes, a vida é isso mesmo, uma sequência de clichês, toscos e grotescos. Então quando um artista transforma o clichê em algo mais, ficamos, no mínimo, intrigados.

O escritor japonês Ryu Murakami (que não tem qualquer parentesco com o conterrâneo mais famoso Haruki Murakami) investe em sua literatura no que há de sombrio sob a superfície civilizada da sociedade. Ele se interessa em expor os monstros que nós mesmos criamos.

Em Audition, acompanhamos a estória de Aoyama, um tranquilo viúvo de meia-idade, dono de uma produtora de vídeo. Ele decide se casar pela segunda vez, incentivado pelo filho adolescente, Shige. Como ele não tem mais paciência para namorar, concorda em ser cúmplice do amigo Yoshikawa numa ideia maluca: entrevistar candidatas  à noiva por meio de uma seleção falsa para um filme. Depois de analisar pessoalmente vários perfis de mulheres, ele se encanta pela tímida e jovem, Yamasaki. Para Aoyama, ela é tudo que um homem como ele procura como segunda esposa: ela é bonita, elegante, comedida, delicada, inteligente... e ex-bailarina. O amigo Yoshikawa, um cara despachado e vivido, não gosta dela. Acha Yamasaki uma garota estranha. Mas Ayoama não quer saber, e mesmo contra sua própria intuição, decide entrar de cabeça num compromisso cheio de respeito e expectativa. A partir daí, sua vida na surperfície se torna um sonho, mas, sob esse verniz de normalidade, esconde-se um pesadelo cada vez mais aterrador à medida que a relação dos dois se aprofunda.
Ryu Murakami

É um livro curto, praticamente uma novela, com um prosa bem direta, em 3ª pessoa. O ponto de vista de Aoyama é dominante. É por meio de suas ações e pensamentos que sabemos como são os outros personagens, como é o mundo à sua volta. Então o que temos aqui é a visão do homem de meia-idade japonês. Apesar de sua retidão de caráter e até ternura, em relação às mulheres, Ayoama não pensa muito diferente do homem médio japonês, que possui uma relação mal resolvida com o sexo oposto. Homens de outras culturas acabam, muitas vezes, externando esse problema com violência, em discussões, espancamentos e mortes. Na cultura japonesa, em geral, o homem procura resolver isso  de maneira mais discreta, transformando a mulher em objeto, para dominá-la, secretamente.

Ryu Murakami transformou a traumática relação do homem japonês com as mulheres numa estória de terror com uma tensão crescente até o clímax chocante.

Já disseram que a personagem de Yamasaki é a maior escorregada do livro, por ser bidimensional demais para nos importarmos com ela.      

Em 1999, foi lançado um filme que virou cult. Ele é bom justamente por não ser tão fiel ao livro. A essência está lá. Mas pequenas mundanças tornaram a estória ainda mais assustadora. Também acompanhamos a trama pelos olhos da ora doce, ora macabra Yamasaki. O livro ganha no melhor desenvolvimento dos personagens ao redor de Ayoama, o filho, o amigo, a dona de um bar... O filme ganha em seu terceiro ato, que soube intensificar ainda mais uma sequência que já era perturbadora em papel.

Audition, de Ryu Murakami, 191 págs., W.W. Norton & Company. AVALIAÇÃO: BOM

Audition, de Takashi Miike, 1999, Basara Pictures. AVALIAÇÃO: BOM.

domingo, 1 de junho de 2014

SINTEL: DARK FANTASY DE PRIMEIRA

Sintel é um curta de animação 3D, produzido com a ferramenta de código aberto Blender, financiado pela Blender Foundation, e licenciado pelo Creative Commons para livre exibição e distribuição. O filme faz parte de um projeto envolvendo a criação de curtas em animação e em live action, além de um jogo de videogame. O próximo projeto será um longa de animação.

Sintel conta a estória de uma garota sozinha no mundo que encontra num dragão ferido sua razão de viver. A qualidade da animação tem seus altos e baixos, mas no geral a produção é bonita e proporciona uma incrível tridimensionalidade a uma trama densa, que nos faz refletir sobre nossas obsessões.